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Escola Alemã- As cervejas lager, ale e ácidas

Atualizado: 8 de out. de 2020

Existem três escolas tradicionais de cerveja, todas na Europa: a Escola Alemã, a Escola Inglesa e a Escola Belga. Cada uma delas tem uma história e personalidade próprias, com estilos diferentes e únicos.


No meio do frenesi de novidades em que o meio cervejeiro está inserido nos últimos tempos, às vezes parece que tudo se resume à busca por novos estilos, ingredientes insólitos, receitas disruptivas e sabores inéditos. Claro que isso tudo é muito divertido, e a busca por novos rótulos é um combustível quase infinito para quem curte cervejas especiais. Mas, como para quase qualquer coisa na vida, novidade é bom mas não é tudo. As escolas e estilos de cervejas tradicionais são tradicionais por um motivo: são receitas que deram certo, caíram no gosto popular e foram sendo aprimoradas até chegar em um estado de equilíbrio quase perfeito de aromas, sabores e sensações de boca.


Mas, para além da perfeição sensorial, estas cervejas estão associadas à história, ao clima e à economia de um povo, o que faz com que a gente esteja consumindo, ao mesmo tempo, generosas doses de cultura.


Em posts anteriores, apresentamos a Escola Inglesa, com alguns dos seus principais estilos. Nesta semana iremos explorar a Escola Alemã.



Escola Alemã


A Escola Alemã é tão tradicional que muitas pessoas acham que a cerveja foi inventada por lá. Embora essa seja uma ideia equivocada, já que existem registros de produção de cerveja desde as civilizações pré-egípcias, o consumo da bebida nessa região da Europa é realmente muito antigo. Além disso, muitos dos princípios que norteiam o conceito moderno de cerveja têm origem na Alemanha, fazendo desta uma escola importante para a história da bebida como um todo.


Foi na Alemanha que, entre os anos 700 e 1.000 da era cristã, se iniciou a utilização de lúpulo na cerveja, ingrediente que logo se espalhou para outras regiões cervejeiras. Foram também os alemães que criaram a famosa “Lei da Pureza”, de 1516, a primeira lei a regulamentar os ingredientes permitidos na fabricação da bebida: água, cevada e lúpulo. E como se já não fosse suficiente, foram os alemães que criaram as cervejas da família Lager, que são mais leves e refrescantes, sendo as mais populares na maioria dos países há décadas.


Mas não é apenas de estilos leves que é feita a tradicional Escola Alemã. E nem apenas de cervejas propriamente alemãs. A zona de influência germânica engloba vários países adjacentes, e por isso consideramos que as cervejas Tchecas e Austríacas também fazem parte da Escola Alemã.


E aí, já bateu a curiosidade de saber os principais estilos? Então vamos a eles.

Cervejas Lager


As cervejas Lager, como já mencionamos, são cervejas mais leves, com foco em aroma e sabor do malte e um leve toque de lúpulo. Os estilos mais populares são dourados, translúcidos e extremamente refrescantes, sendo a Bohemian Pilsner uma das cervejas mais famosas e importantes deste grupo. Criada na região da Bohemia, atual República Tcheca (e extremamente popular por lá até hoje), essa foi a primeira cerveja clara a ser feita, o que foi conseguido devido às características únicas da água local. A popularidade do estilo foi tão grande que chegou a impulsionar a indústria de copos de vidro, já que a partir daquele momento os consumidores queriam ver o líquido dourado e translúcido enquanto o consumiam (o que não era possível até então nas tradicionais canecas de metal ou cerâmica). Outros estilos claros foram criados na esteira da popularidade da Bohemian Pilsner, como a German Pils, a Export e a Helles.


Além das cervejas claras, a família Lager também conta com algumas cervejas mais escuras.


Na Áustria, devido às características da água e malte locais, a cerveja era mais avermelhada, dando origem ao estilo Vienna Lager. Já na Alemanha, temos dois estilos semelhantes ao Vienna Lager, a Märzen e a Oktoberfest, ligados às festividades locais de outubro. Além das cervejas avermelhadas, alguns estilos populares levam malte mais torrado e são assim escuras, como a Dunkel e Schwarzbier. Finalmente, temos as cervejas de inverno, mais encorpardas, escuras e alcoólicas, como a Bock e a Doppelbock.


Cervejas Ale

Para além das populares e numerosas Lagers alemãs, temos também alguns estilos da família Ale, geralmente mais complexas em termos de aromas e sabores. E este é justamente o caso da Ale alemã mais popular e icônica, a famosa Weissbier (ou Weizenbier). Com aroma e sabor característicos que remetem à banana e cravo, este estilo é feito com até 70% de malte de trigo e uma cepa muito específica de leveduras.



Os estilos Dunkelweiss e Weizenbock são derivados da Weissbier, utilizando malte escuro no caso do primeiro estilo, e sendo mais encorpado e alcoólico no caso do segundo.










Outros dois estilos de cervejas Ale são localmente famosos, embora sejam dificilmente encontrados fora da Alemanha: Altbier e Kölsch. Estes estilos são característicos das regiões de Düsseldorf e Colônia, respectivamente, e apresentam cor clara e perfil de aroma e sabor mais leves que a maioria das cervejas da família Ale.

Cervejas Ácidas


Finalmente, temos dois estilos históricos, que remetem a uma época em que a cerveja era fermentada com a presença de bactérias. Isso confere à cerveja um perfil levemente ácido, muito apreciado por diversos consumidores. O estilo Berliner Weisse é feito com malte de trigo, sendo uma cerveja leve e refrescante, muitas vezes sendo consumida com um xarope de frutas (algo como uma soda italiana, mas com cerveja). Finalmente, temos a cerveja Gose, uma cerveja histórica feita com trigo, sendo clara, levemente e ácida e com um toque de sal, o que confere ao estilo uma característica única.

Aposto que existem bem mais estilos na Escola Alemã do que você suspeitava, certo? É assim com todas as escolas tradicionais: muita história, centenas de anos e dezenas de estilos. Mas isso tem um lado bom: descobrir que ainda temos vários estilos por conhecer significa que há ainda aromas, sabores e experiências por vivenciar, e poucas coisas são mais estimulantes do que isso.


Quer uma dica de estilo para saber por onde começar? Se você ainda não conhece a Bohemian Pilsner, comece por ela. Este é um dos estilos mais icônicos da Escola Alemã, que dá origem a vários estilos derivados e que acabam por desembocar na American Lager, o estilo que erroneamente chamamos de Pilsen no Brasil.


Mas o estilo original, Tcheco, tem muito mais personalidade e sabor que as “cópias” americanas, e vale ser incluído no seu catálogo de cervejas já provadas. E se você quiser beber história líquida, a Pilsner Urquell é o rótulo original, a primeira cerveja Pilsner da República Tcheca.


Ficamos por aqui com a Escola Alemã, mas voltaremos em breve para desbravar outra escola tradicional, a Escola Belga. E se você já se surpreendeu com a diversidade germânica, aguarde, porque as cervejas belgas vão mudar completamente o que você entende por cerveja. Psicodelia pura!


Vejo você em breve, e até lá, boas cervejas! Cheers!

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